terça-feira, 16 de dezembro de 2014

A minha irmã A.!

A minha irmã existe, não é do mesmo pai, não é da mesma mãe, é do meu coração e da minha alma. Existem sentimentos que me dizem não ter o direito de sentir. Palavras vazias, a minha irmã é verdadeira e existe, vive no meu coração e na minha alma, vive em mim.
A minha irmã cresceu comigo e a dor bateu à porta do meu coração quando ela foi para longe de mim, e foi sempre assim, nós, eu e ela, estarmos perto mas longe. A minha irmã A. vive a 40 minutos de mim, mas quer o destino que estejamos longe, pela dor que cada uma sente oferecida pela vida, pela tristeza, pela dor que vivemos em nós intensamente. Triste pela natureza, genética, o que for, triste porque sim mas sem saber porquê.
A minha irmã existe e a presença dela ajuda-me a sobreviver.
A minha irmã é parte de mim, um pedaço do meu coração, um membro do meu corpo, elemento da minha alma.

A minha irmã existe e não há nada melhor do que isso!

Nem sempre!

Nem sempre as coisas são sentidas com a profundida devida.
Nem sempre as coisas que não deveriam ser sentidas têm profundidade a mais.
Nem sempre, mas não mando no coração, nem nos sentimentos.
Nem sempre espero o que acontece, nem sempre espero que assim seja, nem sempre perco a esperança, nem sempre, mas por vezes é!
Acredito sempre nas pessoas.
Acredito que as coisas são boas.
Acredito que o bem é bom.

Acredito, mas nem sempre é assim.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

A dor na minha vida

A dor na minha vida é isso mesmo, parte da minha vida, como um braço, uma perna, uma pessoa que conheça, simplesmente faz parte de mim e ponto final. A incompreensão das pessoas que rodeiam alguém com dor crónica e incrível, hoje em dia penso que é pior ainda, porque as pessoas irritam-se com as fragilidades das outras pessoas, irritam-se com o sofrimento, irritam-se com a agonia, dor e lágrima do próximo. A intolerância que as pessoas sentem por alguém em profundo sofrimento é algo de incompreensível para mim, as pessoas não gostam dos mais frágeis, irritam-se, é um facto! Porquê? Não sei, e sinceramente já não quero saber, alguém incapaz de sentir pelo próximo compreensão só porque a pessoa sofre... isso tem alguma explicação possível? Sim, as pessoas podem ter medo que necessitemos de ajuda, que um dia telefonamos e digamos "Podes ir comigo aqui ou ali..." ou "Preciso de ajuda...", pois não, nos livre de pedir ajuda a alguém...

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Hábitos das pessoas emocionalmente inteligentes

Hábito 5 – Conserve o contacto
"Só porque um relacionamento chegou ao fim, não significa que a ponte precisa ser destruída. Mesmo que um acordo ou sociedade acabe de forma amarga, pessoas emocionalmente inteligentes se esforçam para manter uma conexão positiva. Nunca se sabe quando você vai encontrar seu ex-sócio, ou pior, precisar dessa pessoa no futuro".
Eric Schiffer



O texto de Eric Schiffer indica, tal como ele refere ao longo do seu artigo, que estes hábitos devem se cultivados também na vida pessoal. Este assunto é de particular interesse porque tenho vivido a rotura da “ponte” em diversas ocasiões.  As pessoas optam por saírem da nossa vida por completo, talvez porque seja mais fácil iludir a vida. O não encarar as nossas escolhas pessoais parece ser mais fácil do que assumir o nosso erro, corrigi-lo e depois seguir em frente mas com a ponte intacta e não completamente destruída. Um relacionamento pode não durar toda uma a vida inteira, não significando, no entanto, que as pessoas envolvidas se devam tornar inimigas. Maioritariamente a cisão entre as pessoas acontecem por motivos diversos, desde do mal-entendido à falta de diálogo. Não deverá existir assim um meio para que esse relacionamento possa ser reatado ou para que o “luto” aconteça com dignidade? Schiffer menciona "Quando a ponte ainda está disponível, mais oportunidades para melhorar suas experiências irão aparecer". 

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

O clique doloroso


Ontem acordei e senti um clique, entendi que aquela mágoa tinha chegado ao fim, não havia lágrimas invisíveis, nem palavras não ditas para proferir. Pensei nas frases sábias de amizades cruas e quando pus os pés fora da cama estava mais leve, a roupa não me apertava as entranhas e os botões não mordiam a pele das minhas costas.

Hoje ia a ouvir os Spandau Ballet, aparentemente com uma música que nada tem a ver “I’ll lfy for you” e lá senti a volta final do clique que tinha começado ontem. A rotação derradeira dos meus sentimentos aconteceu, estava tudo diferente, mas no fundo também estava tudo igual, estava a chover e quando pensei na dor que poderia causar a ausência analisei e afinal não era nada.


O clique doloroso terminus de algo na nossa vida é assim… faz clique…dói…mas depois passa.


terça-feira, 28 de outubro de 2014

Coisas nas quais acredito



Acredito no amor de mãe e de pai.
Acredito no amor de tia, tio, avós, primas e primos, não todos, mas existe, em algumas dessas pessoas no seu estado mais puro.
Acredito que há pessoas boas e pessoas más, mas tenho o desejo mais profundo que as primeiras sejam em maior número do que as segundas.
Acredito na gratidão e na falta dela, na amizade pura e naquela que atua por interesse.
Acredito que as notícias existem para me deprimir e não informar. Quero acreditar que nem sempre é assim!
Acredito que a noite deve ser pureza, amor e luminosidade interior, mas por vezes os meus olhos não deixam de pensar.
Acredito nas críticas construtivas, nas opiniões bem-intencionadas.
Acredito nas pessoas que usam a sua posição para rebaixar e humilhar cruelmente o próximo, mas preferia não crer.
Acredito no amor, na amizade, em bons corações e bons atos.
Já senti e sinto o amor, a amizade, bons corações e bons atos, mas depois surge sempre algo que temporariamente destrói a minha confiança nestes sentimentos.


quinta-feira, 23 de outubro de 2014

O meu momento incolor



O momento incolor é quando deixas de ser pessoa e passas a ser um empecilho! Na verdade já tive muitos momentos incolores e sempre que desenvolvo algo, julgo que não voltarei a sentir a ausência de cor em mim. Já devia ter aprendido, mas de não sei bem porquê continuo a acreditar.
Passo a ser incolor quando estou a mais, sou chamada para me juntar mas após momentos iniciais passo a ser transparente, não há palavras, gestos, estou ali e quase como uma obrigação é meu puro dever aceitar ser translúcida, não-gente, acessório temporário. Sou o chamado pau-de-cabeleira sem ser para namorados.
A viver nesta incerteza da bondade verifico que sou realmente um espelho dos tempos, descartável, bem, se fosse um telemóvel, androide ou iPhone não correria esse risco… não, ser um instrumento das novas tecnologias também não é fiável, há sempre as evoluções e últimos modelos, por isso ia parar ao mesmo. Talvez seja o meu papel no mundo ser a bengala temporária de alguém.
O meu momento incolor é aquele exato momento em que alguém deixa de precisar de mim e passo a ser algo que passou.


terça-feira, 21 de outubro de 2014

Intolerância à Lactose + Intolerância à maldade = Intolerância à estupidez


Pelos visto tornei-me uma intolerante quando o nosso objetivo de vida visa a melhoria contínua do ser humano. Na verdade, não sei explicar tudo isto, mas julgo que a minha intolerância à lactose está estreitamente ligada à minha intolerância à maldade, e tal como a idade que avança, a lactose é também cada vez mais uma “persona non grata” do meu corpo. 
Aos dezoito anos apercebi-me que era intolerante a produtos feitos à base de leite, nunca tinha dado conta, mas a dado momento o mal-estar após o pequeno-almoço era tanto que deveria haver uma razão, e havia, eu é que nunca tinha ouvido falar em tal coisa, tinha entrado para a faculdade e era uma ingénua. Bem, ao longo dos anos fui suportando esta pequena “pena”, porque considero que um belo copo de leite frio e uma deliciosa fatia de bolo de chocolate são, sem sombras de dúvida, a momento perfeito na vida de qualquer um. E depois existe ainda a mesa de queijos nos casamentos, sábado passado estive a tentar domar essa paixão, a mesa de queijos venceu e quinze minutos mais tarde a minha barriga transformara-se numa bela barriga de grávida, com o vestido apertado lá dei meio pezinho de dança, literalmente dez segundos e meios porque o bebé feito de queijo da serra e brie não permitiu mais do que isso. 
Aos 42 anos descobri que era intolerante à maldade, tudo o que tem como base ingratidão, crueldade, crueza, desumanidade, maldade, malvadez, crueldade etc. e tal. Decifrar este sentimento não é fácil, mas subitamente dei por mim a ganhar umas borbulhas, exprimir gargalhadas súbitas, as tentar controlar a tendência de sarcasticamente declarar o que sinto no Facebook e depois há as borbulhas… A ligeira borbulhagem deve ter origem nas palavras que tanto quero dizer e não posso, não devo! Assim, inesperadamente na minha mente sinto que o ser humano não é todo mau, e claro que não é, nem todos são a Madre Teresa de Calcutá ou Gandhi, pronto, está bem, o Ricky Gervais, mas a maioria deixa muito a desejar à humanidade. Estou um bocado intolerante, eu sei, mas quando vejo a ingratidão e a maldade pura, desculpem lá mas não dá mesmo para ser boazinha a toda a hora. Haja Santa paciência! 
Agora compreende-se certamente a minha mini revolta! Não posso beber leite glacial com uma voluptuosa fatia de bolo de chocolate e depois ainda há a outra parte que nos entristece pois sentimos a ingratidão e solidão na pele. Parece que a história do “recebemos aquilo que damos” é uma real treta, desculpem lá o meu francês.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

As pequenas Memórias de José Saramago

“As pequenas memórias” – José Saramago, ou, coisas que penso, lembro!

“Dos diversos instrumentos inventados pelo homem, o mais assombroso é o livro; todos os outros são extensões do seu corpo… só o livro é uma extensão da imaginação e da memória” (Borges, cit por Amalfi, 2005, p. 33).



A leitura de “As pequenas memórias” de José Saramago é de fato uma descoberta. Várias obras de José Saramago fazem já parte do meu mundo, mas esta autobiografia acutilante ainda não tinha o prazer de conhecer. O relato autobiográfico de José Saramago começou durante a escrita de o “Memorial do Convento” e alongou-se por 20 anos. Os seus primeiros 15 anos na Azinhaga a ida para Lisboa e os estudos na escola industrial, a abundância de lembranças invade o autor e permite ao leitor visitar os diversos locais por onde passou e viver as suas aventuras. O discurso apresenta uma ligação entre o passado e o presente, à partida reconhece: “Só eu sabia, sem consciência de que sabia, que nos ilegíveis fólios do destino e nos cegos meandros do acaso havia sido escrito que ainda teria de voltar à Azinhaga para acabar de nascer” (p.13). Não se verifica uma ordem cronológica dos acontecimentos, o fio condutor desta autobiografia são as lembranças que vão surgindo como as cerejas. As experiências passadas vistas e revistas agora pelos olhos de uma adulto, reconhecem a simplicidade do então e o olhar complexo de um adulto: “A criança que eu fui não viu a paisagem tal como o adulto em que se tornou seria tentado a imaginá-la desde a sua altura de homem” (p.15). O Protopoema escrito pelo adolescente mas com as palavras de um adulto continua a mostrar essa interligação constante entre o jovem Saramago e o adulto – “Nadam-me peixes no sangue e oscilam entre duas águas como apelos imprecisos da memória” (p.17). As memórias parecem por vezes brincar e “se bem recordo, se não o estou a inventar agora, que tinha, finalmente, acabado de nascer. Já era hora.” (p.23). Relembram-se episódios relativamente ao seu medo de cães após uma corrida na zona do Saldanha à frente de um lobo-d’alsácia e a sua paixão pelo cavalo nunca montado “Por fora não se nota, mas a alma anda-me a coxear há setenta anos” (p.28).

“A linguagem é o bem mais precioso e também o mais perigoso que foi dado ao homem.” (Hölderlin, cit por Amalfi, 2005, p. 115)

A referência à importância da “palavra de honra” na noite em que o tio desconfia da mulher, relembra-me peso das palavras no dia-a-dia das pessoas. A grandiosidade daquela e de outras palavras parece ter perdido a sua importância. O facto do menino de catorze anos ter dado a sua palavra de honra acalmou o seu tio, as palavras então ainda tinham algum valor. O episódio da Pezuda leva a tia a ensinar que se deve enfrentar a vida “Estas são as boas lições, das que vão durar toda a vida, das que nos agarram pelo ombro quando estamos prestes a ceder.” (p.34), é nestes momentos que o mundo que nos rodeia e embeleza a nossa lição com sol, chuva, a lua, uma flor ou uma árvore e não, “não é um adorno literário de última hora” (p. 34). Ao ler esta passagem recordei lições que fui recebendo ao longo da minha vida… o olhar da minha mãe, ensinou-me a respeitar os outros e acima de tudo respeitar-me… os olhos dela sempre mostraram mais do que algumas frases que fui ouvindo por aí. A minha tia não o sabe, eu nunca lhe disse isto, mas ensinou-me algo que pratico atualmente todos os dias, ter cuidado com as palavras. Voltando ao episódio da “palavra de honra”, as palavras podem mudar a vida de uma pessoa, para melhor e para pior, digo-o muitas vezes, muitas vezes: “Não é o que se diz, mas como se diz!” A palavra mais inocente pode cortar as veias da vida.


“Names have power.” ― Rick Riordan, The Lightning Thief

Na estrada de leitura da “As pequenas memórias”, deparo-me com palavras relacionadas com os nomes de as datas de nascimento, as recordações que surgiram foram muitas. A primeira memória foi da frase de Rick Riordan, que li inscrita na primeira página do livro “Todos os Nomes” de José Saramago que recebi no dia do meu aniversário, sorri ao ler as páginas das memórias de Saramago, pois “As obras do acaso são infinitas” (Saramago, 1997, p.243) e frases e lembranças emergem a cada momento. Os nomes dos meus avós! Quatro, dois daqui e dois dali, quatro! Cada um tinha apenas dois nomes, as mulheres dois nomes próprios cada e os homens com direito a um nome próprio e um apelido. A Joaquina e a Ana eram apenas mais “Maria”, não tinham direito a mais. O António e o António eram Simões um, e o outro Miguel. O mesmo aconteceu com os meus pais, tios e primos mais velhos. Eu não! Eu tive direito a dois de cada, dois nomes próprio e dois apelidos como mandava a regra da sociedade, tive direito aos dois apelidos dos meus avós. A história do apelido de Saramago é semelhante ao da minha tia Maria Rosa Peralta, ninguém na família tem o nome de Peralta e ainda hoje pensamos o que terá acontecido, talvez “sob os efeitos do álcool e sem que ninguém se tivesse apercebido da onomástica fraude” (Saramago, 2006, p. 48), o funcionário do registo civil ou até o meu avó tivessem um momento menos feliz, e Peralta ficou. Os segundos nomes próprios! Eu ainda não entendi o porquê, mas o peso de um segundo nome próprio acarreta sempre muita história e significado, ora vejamos, eu sempre foi Isabel, nunca Maria Isabel! Eu sabia sempre como estava o humor da minha mãe, dependia sempre da ênfase dada ao “I “inicial do meu nome. Os meus primos eram sempre Maria Fernanda, Helder Carlos, etc, e todos sabíamos que havia problemas. Depois há ainda a história das três irmãs. Minha mãe era a Maria Rosa, a Emília Rosa, é a irmã do meio, e a mais nova é a Maria Guilhermina. Seria de esperar que a mais nova também queria ser Rosa, nome lindo, flor maravilhosa, nome da minha mãe, mas não, a Emília é que queria ser Maria Emília e não Emília Rosa, quando falamos nisto as três, já não as quatro, rimos sempre, e depois choramos um pouco. Agora as datas de nascimento! “Em relação à data de nascimento que tenho no bilhete de identidade morrerei dois dias mais velho, espero que a diferença não se note demasiado” (Saramago, 2006, p. 52). Provavelmente todos os meus avós e alguns tios morreram mais velhos do que nós julgávamos, alguns até meses e não só dois dias como José Saramago. 
As memórias serão sempre memórias, por vezes também serão sentimentos que nos picam, empurram, entalam em momentos de reminiscência. A leitura deste “Saramago” está a ser delicada, espinhosa, talvez pelas memórias que transpõem, talvez pelas imagens à “Eça” que brotam. Nestas páginas que li surgiu “A Sibila” mansamente e outros, não sei como nem porquê, ou talvez saiba… “Da parte de Maria. Talvez houvesse somente esse abalo de ternura que se experimenta por um filho cujo sofrimento nos faz conhecer a intensidade do nosso amor” (Luís, 1989, p.45) e o pai do Félix que “atava o tornozelo do filho ao pé da mesa com uma linha de coser, e ali o deixava ficar todo o tempo necessário ao cumprimento integral dos deveres escolares” (Saramago, 2006, p. 60). Amor explicado de pernas para o ar, ao contrário, indireto, o amor de mãe e de pai que surge quando o susto aparece ou amor que se apresenta pela crueldade da exigência de mestria e execução das tarefas. Saberiam ambos, Quina e Félix, que o amor nem sempre se sente? Subitamente surgem os avós paternos, distantes, frios e que “existir, existiam, mas não funcionavam” (Saramago, 2006, p. 61), julgo que todos nós temos as pessoas que são do nosso sangue ou não e existem mas não funcionam porque por vezes é mesma assim a vida. Não podemos gostar todos de amarelo. Há gostos para tudo! Quem gosta, gosta sempre! E gostos discutem-se, ao contrário do nosso famoso ditado (mas isso são coisas minhas). Mas isto tudo porquê? Simples, fala-se de beijos. BEIJOS. Os beijos que não tocam o nosso rosto, os beijos que nos tocam ao de leve, os beijos que exigem que nos agarrem com as duas mãos e sonoramente nos deixam um bocadinho surdos e lambidos. Que sofrimentos me causaram os beijos quando era pequena. Onde nasci não se beijam as pessoas, beijamos o nosso pai e a nossa mãe e nada mais. Quando voltei a um dos meus países, existiam beijos por mil e um motivos. Lembro-me bem de ter de beijar as pessoas que ia conhecendo na minha nova vida e pensar “Isto nunca mais acaba?”. Beijava a prima, o tio, a vizinha, a amiga da minha da tia, o Senhor Doutor, a Catequista… Oh my God, pensei, eu, a sério! Mas às “vezes pergunto-me se certas recordações são realmente minhas, se não serão mais do que lembranças alheias de episódios de que eu tivesse sido ator inconsciente…” (Saramago, 2006, pp. 63, 64). Mas para comprovar a nossa vida existe sempre a fotografia, fotografia que existe mas nem sempre coincide com as nossas memórias. O sentimento que Saramago parece pela ausência de uma prova dos seus três anos, certamente já o senti, não para assegurar a minha existência num qualquer momento, mas para atestar a existência de alguém que já não voltarei a ver. “Partiu, sem mesmo se despedir com grandes e penalizados adeuses, …” (Luís, 1989, p. 62), quase sem fotografias, quase sem memórias suficientes para serem relembradas. Nota Extra: A causa direta da leitura de “As pequenas memórias” é a releitura de “Como um romance” de Daniel Pennac, “A Sibila” de Agustina Bessa Luís, “Kindergeschichten” de Peter Bichsel e “A Metamorfose” de Kafka… por enquanto…

“Toda a descida em nós mesmos é simultaneamente uma ascensão, uma assunção, uma vista do verdadeiro exterior.” (Novalis, 1986, p. 14)

Pensei nesta última partilha e julguei ver-me nas palavras que li e escrevi! As pequenas memórias foram apenas a chave, abrir a porta para recordações embebidas em mim foram o que encontrei, não sei se o caminho era este, se virei à esquerda quando deveria ter seguido em frente. Mas as palavras dos outros muitas vezes tornam-se minhas. Nas páginas que seguem muitas são as memórias que usurpo para mim, na página 72 a lasca de carne que a navalha atingiu, a minha carne também o experimentou; na página 81 “andávamos, por tudo e por nada, continuamente engalfinhados como cão e gato” (Saramago, 2006), a verdade é tão grande que senti as palavras e unhas dos meus primos no meu braço e na minha alma; na página seguinte a palavra “Tejo” o cheiro puro da água, o verão sentido nas margens com cavalos à solta, a bicicleta que corria depressa para chegar à água, os peixes que nadavam ao nosso lado, a menina da cidade que se moldou à vida doo campo sem ir ao forno! A pesca arrastada pelo pai e pelos primos, valiam os livros que de isco serviam à imaginação acompanhado da ausência de som “Não creio que exista no mundo um silêncio mais profundo que o silêncio da água. Senti-o naquela hora e nunca mais o esqueci” (Saramago, 2006, p. 86). Depois ainda existem os castigos divinos dos pobres trabalhadores domingueiros (p.90), eu lembro-me das agulhas que entravam no corpo e percorriam os caminhos até ao meu coração… desculpas que a avó Joaquina dava para não me ensinar a costurar. Existem também as memórias que guardamos através de pequenos objetos “comprei num antiquário de Lisboa um relógio semelhante que ainda hoje conservo, como algo que tivesse ido pedir emprestado à infância” (Saramago, 2006, p. 92), a tentação é sempre grande, mas por um estranho motivo só guardo livros da minha infância. A expressão popular da página 93 não tem o mesmo significado para mim, pelo menos como aprendi, “regressar a penantes” significava voltar para casa ou qualquer outro local “a pé”! - Vais como? - A penantes! - Bolas, não arranjas boleia? - Népia! A rapariga mais bonita foi sempre a minha tia, pelo menos são estas as palavras de toda a família, “segundo havia sido voz corrente no tempo” (p.94), o cabelo em canudos, comprido, uma trança forte e grossa, os olhos azuis-claros e a fabulosa altura de um metro e 38. Confesso, as fotografias, apesar de monocromáticas, comprovam a beleza da rapariga mais bonita de Alvaiázere, terra onde foi apresentada aos banquinhos baixos, que, devo confessar, adoro! A frase mais marcante desta 5ª leitura será certamente “E foi aqui, agora que o penso, que a história da minha vida começou” (Saramago, 2006, p. 102), a minha começou nas aulas de Literatura Portuguesa com o malogrado Professor Vítor Trindade, nesse dia pensei “Quero ser assim quando for grande!” e só aos 17 anos aprendi a amar a língua dos pais. No fabuloso dia em que este adorável professor recitou um poema de Mário de Sá-Carneiro “Dispersão” encontrei a minha pátria! Parece uma contradição, mas não é!

humildade...

"- Com a idade adquire-se uma certa humildade, (...). Quanto mais anos tenho, mais ignorante me sinto. Só os jovens têm explicações para tudo. Na tua idade pode-se ser arrogante e não importa muito parecer ridículo - replicou ela, secamente." in A cidade dos deuses selvagens de Isabel Allende
Sempre a esperar que seja diferente quando sentimos o mesmo poderá levar a momentos de loucura pura. Com o passar dos anos existem sentimentos iguais. Sendo os mesmos sentimentos aqueles que nos levam à permanente busca da felicidade, assumindo ela as formas que desejar, o mais estranho é saber que acordo para o mesmo mas sabendo que tudo está diferente, como? Não sei, e a busca das respostas ás minhas questões deixou de fazer sentido, simplesmente deixou de fazer sentido. A humildade da ignorância deve acompanhar o ser humano sempre, deve levar-nos a procurar a resposta dentro de nós, no coração ou na alma, como quiserem. A calma inquieta que esta sensação nos oferece por indicar um sossego que não buscamos, mas está lá, mesmo à entrada da nossa porta.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Books Books Books!

"So many books, so little time" Frank Zappa.

Eu leitora!

Sou uma leitora compulsiva. Descrever-me como leitora? Quando andava na escola o meu pai foi chamado à escola… acusação? “A sua filha lê demais. Vai à biblioteca dois em dois dias e lê nos intervalos, devia falar com ela!” O meu pai contou-me esta história anos mais tarde, já eu era adulta. O meu primeiro livro intitulava-se “Flo mit guter Laune” de Wilhelm Topsch, tinha cinco anos. A história de Flo é uma narrativa maravilhosa de um menino que espalha alegria pela cidade. Ainda hoje quando estou triste releio algumas páginas deste livro.

Palavras, sentimentos ou livros? Nunca sei!!

Palavras, sentimentos ou livros? Nunca sei!! Por vezes vou no carro a ouvir canções que mexem com o meu interior... não necessitam de ser músicas profundas e cheias de sentimento, quando digo "mexer com o meu interior" estou a ser literal, ou talvez não! Mexer o corpo para não sentir nada mais para a além do som, nada mais do que isso. Depois, estupidamente quando estaciono baixo o som, como se as notas musicais tivessem qualquer interferência na minha capacidade de estacionar um veículo. Quando procuro algo lugar e vou de carro também baixo o som do rádio, faço-o sempre e acho sempre que estou a ser ridícula! Penso muito quando conduzo, acho que muitas pessoas pensam, pensam no dia, nas tarefas a cumprir, eu penso que livros e histórias. Actualmente não, mas à dois, três anos atrás e tinha todos os dias ideias para escrever uma história. Algumas guardei-as,poucas (só duas) e o resto perdeu-se para sempre. Talvez as histórias tenha sido um momento breve e suave, uma brisa só porque sim. Se nada é por acaso estas histórias morreram no dia em que nasceram porque assim tinha de ser. Li algures, ou poderá ter sido num filme, as que na boca de Virginia Wolf, George Sand que os melhores livros vivem na nossa mente, as palavras que coloco na boca célebre pode ter sido um devaneio da minha mente doente.